EXEGESE LC 10,1-12 - Os 72 Peregrinos


INTRODUÇÃO

A perícope de Lc 10,1-12, em que Jesus fala da missão dos 72 discípulos, é de suma importância quando, hoje, a partir do Documento de Aparecida, somos relembrados de que todo batizado é discípulo missionário de Jesus Cristo (simbolizado pelo envio dos 72, que significa um multidão) e não somente a Igreja hierarquia (simbolizada pelo envio dos 12 apóstolos).
Veremos que esta missão dos 72 não está a serviço da missão dos 12, mas é uma missão totalmente nova, original,  de mesma dignidade e que não tem menos importância do que aquela.
Neste exercício de exegese, seguiremos uma metodologia que se divide em 3 partes.
Na primeira parte, faremos as “análises preliminares”, isto é, veremos o que o texto diz. Nesta análise preliminar, veremos qual é o texto, como podemos trabalhá-lo separadamente, como podemos dividi-lo em uma estrutura e, finalmente, compará-lo nas suas diferenças com seus textos paralelos.
Na segunda parte, entraremos na exegese propriamente dita, não tendo a intenção de analisar todos os detalhes, mas sim falar do essencial e exercitar a prática exegética.
Na terceira e última parte, olharemos a perícope em relação com os textos imediatos e dentro do conjunto do Evangelho de Lucas.





1.      ANÁLISES PRELIMINARES

Neste texto pretendemos analisar a perícope do Evangelho de Lucas, capítulo 10, versículos 1 ao 12.
Para melhor explicitar exegeticamente o texto, antes faremos a delimitação do texto e sua justificação. Após, proporemos uma estrutura. O passo seguinte será identificar se há ou não textos paralelos.

1.1 Texto[1]

Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois e, dois a dois, enviou-os à sua frente a toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes:
“A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita. 3 Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos.  4 Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho. 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!  6 E se lá houver um homem de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; se não, voltará a vós. 7 Permanecei nesta casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebido, comei o que vos servirem; 9 curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’. 10 Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebido, saí para as praças e dizei: 11‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nos a sacudimos para deixá-la par vós. Sabeis, no entanto, que o Reino de Deus está próximo.’ 12  Digo-vos que, naquele Dia, Sodoma será mais tolerada do que aquela cidade.

1.2 Delimitação do texto

A seguir, procuraremos justificar a possibilidade de trabalhar a nossa perícope (Lc 10,1-12) de uma forma separada. Tentaremos provar que isto é possível lançando mão de critérios de tempo, lugar, personagens e tema.

1.2.1 Critério de tempo

O tempo entre a perícope anterior (9,57-62) e a perícope analisada (Lc 10,1-12) é incerto, pois o texto diz: “Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois” (10,1). Este “depois disso” é incerto, pode ser logo em seguida, pode ser um tempo depois ou dias depois.
O tempo entre a perícope analisada (Lc 10,1-12) e a posterior (Lc 13-15) é provável que tenha sido o mesmo, já que não há uma palavra ou frase que nos mostre uma mudança de tempo, além disso, o assunto continua: a crítica às cidades (10,12-13ss)

1.2.2 Critério de lugar

As três perícopes (a anterior - 9,57-62 - , a que vai ser analisada - 10,1-12 - e a posterior - 10,13-16), dentro do texto em si, compartilham do mesmo lugar. Um lugar indeterminado à caminho de Jerusalém (9,51).
Podemos pensar que ainda estão na Samaria, onde entraram em uma aldeia e não foram recebidos (9,52), indo então para outra aldeia (9,55) que não sabemos se é dentro ainda da Samaria ou já é fora. Portanto, dizer que ainda estão na Samaria é uma suposição não confirmada pelo texto.
O lugar onde acontece as três perícopes, no texto, é o mesmo (entendendo, porém, não de forma estática, mas dinâmica, um “lugar” em movimento de caminhada), isto é, um trecho entre a Samaria e Jerusalém.

1.2.3 Critério de personagens

Quanto aos personagens, no texto anterior à perícope escolhida (9,57-62), temos uma mudança de personagens em relação à perícope que vai ser estudada (10.1-12).
Na anterior, temos três personagens que dialogam com Jesus e os ouvintes que são os discípulos. O primeiro personagem decide ir com Jesus (9,57). Jesus adverte de que de sua vive como peregrino que não tem onde reclinar a cabeça (9,58). O segundo, Jesus chama para que o siga. Este, porém, pede para sepultar o seu pai (9,59). Jesus diz a ele para deixar que os mortos sepultem os mortos e partir imediatamente, a fim de proclamar o Reino de Deus (9,60). O terceiro se propõe a seguir Jesus, mas coloca uma condição: despedir-se de sua família (9,61). A este Jesus repreende, dizendo que esta condição imposta para o seguimento o faz inapto para o Reino de Deus, pois este discípulo coloca a mão no arado e olha para traz (9,62).
A perícope analisada (10,1-12) tem novos personagens em relação à anterior: agora não são 3 aqueles que tem a atenção especial de Jesus, mas são 72 (Lc 10,1). Estes personagens permanecem na perícope posterior (10,13-16), porém, não é a eles que Jesus se dirige.
Quanto a perícope posterior, os personagens, aparentemente, permanecem os mesmos.

1.2.4 Critério de tema

A perícope de Lc 10,1-12 diverge da anterior e da posterior no tema tratado. Se na anterior, o tema são as condições para o discipulado individual, o tema seguinte são orientações para o apostolado coletivo dos 72 discípulos.
Vemos que a temática geral do seguimento e da missão (e da subida para Jerusalém: 9,51) ainda continua, porém, o que antes era um chamado particular, para aqueles que ia encontrando pelo caminho (9,57) à Jerusalém (9,51), agora Jesus chama um grupo: 72 discípulos (10,1). A este grupo ele vai instruir (10,4-9), encorajar de possíveis dificuldades (10,10-12) e enviar (10,1-3).
A perícope seguinte, quanto à temática, vai “continuar” encorajando os discípulos acerca das dificuldades que poderão encontrar, como não ser bem recebidos: “Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebido, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nos a sacudimos para deixá-la par vós. Sabeis, no entanto, que o Reino de Deus está próximo.’  Digo-vos que, naquele Dia, Sodoma será mais tolerada do que aquela cidade” (10,10-12). Todavia, este terá uma novidade, pois Jesus agora não fala mais aos discípulos como em 10,12 (digo-vos: lego hymin[2]), dirige-se agora às cidades de Corazim e Betsaida: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!” (10,13: Ouaí soi, Khoradzín, ouaí soi, Bethsaidá[3]). Não obstante, nesta perícope posterior, este “continuar” encorajando da parte de Jesus não se refere diretamente a uma crítica àquelas cidades que posteriormente não receberão bem os discípulos (no futuro), mas aquelas que não receberam o próprio Jesus (no presente), daí a condenação de Corazim e Betsaida, que não o acolheram, não obstante os sinais de Jesus: “Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram” (10,13: Hóti ei en Tyro kaì Sidôni egenéthesan ai dynámeis hai genómenai em hymin[4]). Jesus, então, vai dizer que, se no futuro, os discípulos também não forem bem acolhidos, é o próprio Cristo que não será acolhido, e se forem bem acolhidos, é o Cristo que será bem acolhido: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e que me despreza, despreza aquele que me enviou.” (Lc 10,16).

1.2.5 Conclusão: porque analisaremos esta perícope separada da anterior e da posterior

Afirmamos que há uma corte entre a perícope que pretendemos analisar e a perícope posterior em dois sentidos: na mudança de interlocutor (antes eram o grupo dos 72, agora são as cidades de Corazim e Betsaida). Temos um corte, também, com a perícope anterior no critério de personagens. Continua Jesus e os discípulos, porém, os interlocutores diretos de Jesus não serão mais 3, serão 72.
Além disso, há um corte de tema com a perícope anterior e a posterior. Se na anterior o tema era as condições do discipulado individual, agora são orientações para o discipulado coletivo. Se na perícope analisada o tema é a crítica às cidades que posteriormente não receberão os discípulos (no futuro), na perícope posterior a crítica é às cidades que não receberam o próprio Jesus (no passado).

1.3 Estrutura do texto[5]

Dividiremos o texto em 3 partes:
1) Escolha, motivação e mandato de envio em território perigoso (1-3);
2) Orientações diversas para a missão (4-9) e
3) Orientações sobre possíveis dificuldades e encorajamento (10-12)

I.                   Escolha, motivação e mandato de envio em território perigoso (1-3)
v. 1 Escolha.
v. 2 Constatação da falta de operários e o que se deve fazer.
v. 3 Mandato de envio aviso que encontrarão perigo.

Nesta primeira parte destacamos que Jesus escolhe os 72 discípulos e diz que vai os enviar em missão. Explica a eles qual é a importância desta missão (que há poucos operários) e que é necessário pedir ao Pai que envie mais operários para a missão. Logo em seguida, Jesus novamente diz que vai enviá-los, mas como “cordeiros em meio a lobos”, para deixar claro que os discípulos encontrarão dificuldades e perigos.

II.                Orientações diversas para a missão (4-9)
v. 4 Orientações para o que levar e como se comportar no caminho da missão.
vv. 5-6 O que fazer quando chegar em um casa.
v. 7-9 Orientações para quando permanecer em uma casa ou em uma cidade.

Nesta segunda parte Jesus dá orientações aos discípulos: como se comportar no caminho, o que levar, o que fazer ao chegar em uma casa e como se comportar em uma casa ou cidade.

III.             Orientações sobre possíveis dificuldades e encorajamento (10-12)
vv. 10-11 O que fazer quando não for bem recebido em uma cidade.
v. 12 O que acontecerá à cidade que não tiver acolhido bem.

Esta terceira parte nos mostra que Jesus, assim com já tinha previsto no início da perícope, que o campo de missão seria perigoso (10,3), que estariam como “ovelhas entre lobos”, fala sobre o que fazer quando os discípulos forem rejeitados em determinadas cidades, e o que acontecerá a esta cidade como forma de encorajamento: que eles estarão sob a proteção do julgamento divino.

1.3 Texto paralelo

O fato é que somente Lucas relata o envio dos setenta e dois discípulos[6].  Assim, Leon Morris, na sua tabela de sinóticos, diz que não há paralelos para esta perícope:

TABELA DE SINÓTICAS DE MORRIS[7]


LUCAS
MARCOS
MATEUS
A missão dos setenta
10,1-12


A perdição das cidades da Galiléia
10,13-16

11,21-24
O regresso dos setenta
10,17-20


A exultação de Jesus
10,21-24

11,25-27

Porém, este texto de Lucas, em grande parte é semelhante ao material de Mateus no relato do envio dos Doze. O exegeta Champlin afirma que esta semelhança significa que Mateus e Lucas utilizaram-se da mesma fonte (fonte Q)[8], e acrescentaram seu material particular.
Uwe Wegner ratifica esta tese apresentando um quadro[9] sobre textos atribuídos à fonte Q[10].

TEXTOS ATRIBUÍDOS À FONTE Q

Lucas
Mateus
Tema
Envio dos discípulos - missão
9,57-60
8,19-22
Exigências do seguimento de Jesus
10,1-12
9,37-38.10,9-16a
Discurso da missão
10,13-15
11,21-23
Ai das cidades impenitentes
10,16
10,40
A autoridade dos enviados

Champlin, a partir daí, afirma que, se não há um paralelo direto, há um paralelo indireto para esta perícope. Se em Lucas temos o texto em um único bloco, em Mateus se divide em 6 blocos, pois correspondia a intenção de cada um deles optar por um esquema de construção do texto[11].
 No quadro montado por Champlin, temos os paralelos de Lucas e Mateus expostos em versículos.

TABELA DE PARALELOS SINÓTICOS DE CHAMPLIN[12]

LUCAS 10
MATEUS
v 1 (Lucas somente)
Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois e, dois a dois, enviou-os à sua frente a toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir.

v 2
E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita.
9,37-38
“A colheita é grande, mas poucos os operários! Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita.
v 3
Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos.
10,16
Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.
v 4
 Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho.
10,9-10 com leves variações
Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado: pois o operário é digno de seu sustento.
vv 5-6
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!  E se lá houver um homem de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; se não, voltará a vós.
10,11-13 com leves variações
Quando entrardes numa cidade ou numa aldeia, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar. Ao entrardes na casa, saudai-a. E, se for digna, desça a vossa paz sobre ela. Se não for digna, volte a vós a vossa paz.
v 7
Permanecei nesta casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não passeis de casa em casa.

10,11 com leves variações
Quando entrardes numa cidade ou numa aldeia, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar.
vv 8-9 (Lucas somente)
Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebido, comei o que vos servirem; curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.

vv 10-11
Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebido, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nos a sacudimos para deixá-la par vós. Sabeis, no entanto, que o Reino de Deus está próximo.’
10,14
Mas, se alguém não vos recebe e não dá ouvidos às vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi o pó dos vossos pés.

v 12
Digo-vos que, naquele Dia, Sodoma será mais tolerada do que aquela cidade.
10,15
Em verdade vos digo que o Dia do Juízo será mais tolerável para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.

Optando por aceitar a tese de que há um paralelo em Lc e Mt, analisaremos em que pontos estes paralelos divergem. Lembramos, porém, que Lc fala do envio dos setenta e dois, e Mt, do envio dos Doze.
No v. 1 de Lc não há paralelo com Mt.
No v. 2 de Lc, parece-nos que os textos são idênticos a Mt 9,37-38.
No v. 3 de Lc não há o acréscimo que há em Mt 10,16, de que os discípulos devem ser prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.
No v. 4 de Lc há o acréscimo de não saudar ninguém no caminho, enquanto que em Mt 10,9-10 o discípulo, além de não levar bolsa, nem alforje, nem sandálias, também não deve levar ouro, nem prata, nem cobre, nem duas túnicas, nem cajado, pois o operário é digno de seu sustento.
Nos vv 5-6 de Lc, quando o discípulo entrar em uma casa, ele primeiro deve desejar a paz ou abençoar com a paz aquela casa. Se o anfitrião não for digno, a paz retornará. Em Mt 10,11-13, o discípulo, quando entrar numa aldeia (e não ainda numa casa) deve primeiro saber se há alguém digno da visita. Após, há a visita com a saudação (não fala que é com a paz). Se o anfitrião não for digno, a saudação retornará.
No v. 7 há um problema com o paralelo de Champlin, que cita Mt 10,11, porém, é mais evidente que o paralelo seja Mt 10,10, pois os dois falarão que o trabalhador é digno de seu salário.
Nos vv 8-9 de Lc novamente não temos paralelo em Mt.
Nos vv 10-11 de Lc temos o acréscimo de que o discípulo deve dizer que o Reino de Deus está próximo, o que não se encontra em Mt 10,14.
No v. 12, Lc cita somente o castigo de Sodoma, enquanto Mt 10,15 cita junto ao castigo de Sodoma, o de Gomorra.

1.4 Considerações conclusivas

Chegamos então ao fim da introdução necessária para a análise exegética, constatando que é possível trabalhar a perícope de Lc 10,1-12 em separado do restante do livro, e que pode ser divido esta perícope em 3 partes: 1) Escolha, motivação e mandato de envio em território perigoso (1-3); 2) Orientações diversas para a missão  (4-9) e 3) Orientações sobre possíveis dificuldades e encorajamento (10-12).
Também vimos que há uma discussão se há ou não um paralelo para este texto. Aceitamos a tese de que há um paralelo.



2. EXEGESE DO TEXTO

Se há um paralelo com Mateus, no envio dos Doze, de modo algum podemos concluir imediatamente que o envio dos setenta e dois seja variação ou extensão de continuidade do envio dos Doze. São duas missões distintas. Isso quer significar que não somente os doze tiveram o mandato do apostolado em nome de Cristo[13].
Poderíamos perguntar: por que Mateus não registra a missão dos setenta e dois? Uma resposta seria: porque esta missão não existiu. Outra resposta, mais satisfatória, diz que a missão dos setenta e dois se constitui no último período da missão de Jesus, e que seu material é escasso. Assim, a missão de Jesus se dividiria em 3 etapas: a primeira, com quatro pescadores, a segunda com Doze apóstolos e a terceira com setenta e dois discípulos.[14]
Analisaremos, a seguir, as três partes constituídas pela perícope, de acordo com a proposta de estrutura do texto anteriormente explicitada.

I. Escolha, motivação e mandato de envio em território perigoso (1-3)

v. 1 Escolha

“Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois e, dois a dois, enviou-os à sua frente a toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir.”

Com a expressão “outros setenta e dois discípulos”, Jesus não quis dizer que já havia enviado em algum outro momento setenta e dois discípulos. Quer dizer que envia mais discípulos, além dos doze que enviara.
Champlin acredita que esse ministério aos setenta e dois pode ter acontecido na Judéia[15] e o envio dos 12, na Galiléia. Porém, como dissemos anteriormente na análise preliminar do texto, não podemos afirmar com certeza onde foi, mas desde onde até onde se encontra este chamado e envio: da Samaria à Jerusalém, na Judéia.
Outra questão é o número de discípulos que Jesus enviou: 70 ou 72? Essa questão não está perto de uma definição consensual. Muitas boas traduções registram 70 discípulos, outra boas traduções já registram 72, que é o mais provável. Uma interpretação é que o número significa uma grande quantidade de discípulos.[16]
O livro do Gênesis, capítulo 10, registra, na tradução hebraica, o número de 70 nomes que faziam parte da descendência de Noé, já a tradução grega (dos LXX) registra o número de 72, para significar todos os povos do mundo.[17]
Outra associação é com os 70 anciãos que Moisés nomeou e os dois que ficaram no acampamento (Nm 11,16-17), e Jesus seria um novo Moisés. Também o número 70 é associado aos 70 membros do Sinédrio que esperavam a vida do Messias.[18]

v. 2 Constatação da falta de operários e o que se deve fazer

“E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita’.”

As palavras que Jesus utiliza neste versículo já havia utilizado outras vezes (Mt 9,37-38; Jo 4,35).[19] Champlin fala que esta declaração era uma das favoritas de Jesus (havendo paralelos em João 4,35 e Mateus 9,37-38).[20]
Jesus utiliza-se da imagem de uma plantação em tempo de colheita. Para que haja colheita, é necessário muitos trabalhadores.

Esta plantação tem como dono o próprio Deus. É ele quem toma iniciativa de chamar os trabalhadores. Diante da gratuidade de Deus, o envio de mais trabalhadores se dá através da oração a Deus.[21]

v. 3 Mandato de envio e que encontrarão perigo.

“Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos.” 

Esta frase é tomada da tradição judaica (Israel são os cordeiros e os pagãos são os lobos), é também usada para as primeiras comunidades (cf. At 20,29: Jo 10,12).
Significa que eles tem apenas a ferramenta da persuasão da palavra e do exemplo. De modo algum podem utilizar-se da violência. Junto a essa fragilidade, está também a pobreza como condição de possibilidade para a liberdade do discípulo missionário.[22] O discípulo missionário fica a mercê das circunstâncias, sem nenhuma garantia de sustento e de ser aceito.[23]
Outra conclusão é que Jesus, além de prever que há perigos, também tem o domínio sobre estes perigos, ou seja, tudo o que acontecesse aos discípulos já estaria dentro de um propósito, não acontecendo nada por acaso.[24] Deus estaria preservando o bem estar e a integridade do discípulo em meio a uma geração pervertida.

II. Orientações diversas para a missão (4-9)

v. 4 Orientações para o que levar e como se comportar no caminho da missão.

“Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho.”

A expressão ballantio (bolsa) é usado somente por Lucas. A bolsa era algo onde se carregava o dinheiro.
O fato de não levar sandálias significava que não era para levar um par a mais, além do que o discípulo estava utilizando.
O pedido para não saudar ninguém era porque as saudações no oriente são muito demoradas, pois compõem-se de muitos detalhes que devem ser respeitados[25]. A missão exigia pressa.[26]
No Talmude havia um texto[27] que dizia que não se devia levar cajado, sapato, sacola ou dinheiro quanto se ia para o Templo rezar. Daí que a missão dos discípulos era tão importante, que suas atitudes deveriam ser semelhantes a de quem vai rezar no Templo.

vv. 5-6 O que fazer quando chegar em um casa

v. 5 “Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!
v. 6 E se lá houver um homem de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; se não, voltará a vós.”

Parece significar que a primeira atitude dos discípulos missionários, antes de entrar em uma casa, é dar a saudação da paz que era um tipo de bênção semita. Mas, se o dono da casa não desejasse receber, esta bênção retornaria a quem abençoou, pois ninguém seria forçado a receber aquilo que não quer: “os discípulos  não estariam procurando transmitir uma bênção para alguém que não deseja recebê-la.” (Morris, 1990, p. 172)

v. 7-9 Orientações para quando permanecer em uma casa ou em uma cidade.

v. 7 “Permanecei nesta casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não passeis de casa em casa.”
v. 8 Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebido, comei o que vos servirem;
v. 9 Curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.”

Na missão, o discípulo missionário deve submeter-se às diversas circunstâncias que se oferecerem, para que nada impeça a missão. Para isso, os tabus alimentares e de pureza dos judeus não deveriam ser impedimento para a missão, pois o missionário está levando um último e urgente apelo de salvação a todos que aceitarem.[28]
Este anúncio é levado dois a dois. Todos são convidados a faze parte do Reino.[29]
O mandato de curar os enfermos, anunciar que o Reino está próximo, é algo que Jesus já estava fazendo e que havia sido ordenado aos 12 que também fizessem.[30] Podemos ver que não se trata de uma extensão deste mandato, mas um mandato totalmente singular, novo.

III. Orientações sobre possíveis dificuldades e encorajamento (10-12)

vv. 10-11 O que fazer quando não for bem recebido em uma cidade.

v. 10 “Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebido, saí para as praças e dizei:
v. 11 ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nos a sacudimos para deixá-la par vós. Sabeis, no entanto, que o Reino de Deus está próximo.’.”

Se acaso não fossem recebidos com a mensagem do Reino de Deus, os discípulos teriam duas outras mensagens. A primeira é que este povo se auto-exclui do povo de Deus, e a segunda é que esta recusa não modifica a realidade do Reino, que está próxima. A recusa, portanto, não é recusa aos pregadores, mas ao Reino de Deus. A consequência era que as pessoas estavam atraindo para si o julgamento.[31]  “Desse modo, a mensagem de misericórdia se transmuta em sentença condenatória, quando é ignorada ou repelida.” (Champlin, 1980, p. 104)

v. 12 O que acontecerá à cidade que não tiver acolhido bem.

“Digo-vos que, naquele Dia, Sodoma será mais tolerada do que aquela cidade.”

No dia do julgamento, as cidades que se recusaram a aderir ao Reino de Deus, serão julgadas com mais rigor do que a cidade de Sodoma, do Antigo Testamento (Gn 19,13.24-25).[32]

 




3. O TEXTO NO CONTEXTO

Neste capítulo, veremos que a perícope escolhida faz parte de um conjunto maior dentro do Evangelho de Lucas.

3.1. Relação com o conteúdo imediato

No fragmento anterior, Jesus decide partir para Jerusalém (9,51). A partir daí, temos uma temática comum: a eleição, a instrução e o envio dos discípulos.
Na perícope anterior, Jesus encontra três pessoas no caminho onde acontece um diálogo vocacional, ou seja, apresenta-se a oportunidade de seguir Jesus (9,57-62). Na perícope que analisamos (10,1-12), temos a instrução e o envio dos 72 discípulos. Na perícope posterior temos a crítica a Corazim e Betsaida (10,13) que recusaram a aceitá-lo anteriormente na sua missão. A temática da missão termina quando um doutor da Lei interroga Jesus acerca do que é necessário fazer para ganhar a vida eterna (10,25ss). Portanto, a perícope faz parte de um bloco único cuja temática é a missão, e de um bloco maior, que veremos a seguir, que é o caminho para Jerusalém.

3.2 A função da perícope no livro

Esta perícope analisada está dentro de um fragmento do livro de Lucas que podemos intitular “da Galiléia para Jerusalém[33]” (9,51-19-44) quando, em 9,51 Jesus decide partir para Jerusalém. Ir para Jerusalém significa, também, ir em direção à cruz e à ressurreição.
Morris divide o livro de Lucas em oito partes:
1) as narrativas da infância (1,5-2,52);
2) o começo do ministério de Jesus (3,21-4,13);
3) o ministério de João Batista (3,1-20);
4) Jesus na Galiléia (4,14-9,50);
5) da Galiléia para Jerusalém (9,51-19,44);
6) Jesus em Jerusalém (19,45-21,38);
7) a crucificação (22,1-23,56) e
8) a ressurreição (24,1-53).
Apresentamos, no final do texto, uma divisão do livro de Lucas proposta por Morris.
Fabris e Maggioni dividem essa caminhada nos seguintes passos[34]:
a)      Jesus é seguido pelos discípulos e por uma grande multidão (9,51-62);
b)      Aos discípulos ele dá instruções para segui-lo (12,1-48);
c)      À multidão, ele convida para a conversão (12,49-13,21);
d)     Jesus faz uma pausa para contar duas parábolas, que explicitam a característica de sua ação. (14 – 15)
e)      Antes de chegar às portas de Jerusalém, retomas os temas mais importantes: sobre uso dos bens (16), sobre responsabilidade e perseverança na espera do Filho do Homem e a importância de não cair em fanatismo e impaciência (17,22-37; 18,1-8; 19,11-27); sopre a salvação e o perdão dos pecados oferecidos aos excluídos e pecadores (17,11-19; 18,9-4; 19,1-10).






CONCLUSÃO

Neste exercício exegético, procuramos tirar o máximo proveito dos autores que nos auxiliaram neste percurso, e nos indicaram que, em uma visão sincrônica dos Evangelhos, a perícope quer demonstrar que a missão dos setenta e dois discípulos não está subalterna à missão dos Doze, mas é uma missão de mesma importância, com praticamente o mesmo mandato, salvo algumas diferenças.
Findo o nosso exercício exegético, temos uma convicção de que posteriormente poderemos continuar aprofundando este tema e esta perícope, pois o texto ainda tem muito a nos ensinar.





APÊNDICE

PREFÁCIO (1,1-4) [35]

1. AS NARRATIVAS DA INFÂNCIA (1,5-2,52)
a. Predito o nascimento de João Batista (1,5-25)
b. Predito o nascimento de Jesus (1,26-38)
c. Maria visita Isabel (1,39-45)
d. o cântico de Maria (1,46-56)
e. O nascimento de João Batista e sua nomeação (1,57-66)
f. O Cântico de Zacarias (1,67-80)
g. O nascimento de Jesus (2,1-7)
h. Os anjos e os pastores (2,8-20)
j. o menino Jesus (2,21-40)
l. O menino Jesus no Templo (2,41-52)

II. O COMEÇO DO MINISTÉRIO DE JESUS (3,21-4,13)

a. O batismo de Jesus (3,21-22)
b. A genealogia de Jesus (3,23-38)
c. As tentações de Jesus (4,1-13)

III. O MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA (3,1-20)


IV. JESUS NA GALILÉIA (4,14-9,50)

a. O sermão em Nazaré (4,14-30)
b. Jesus curando (4,31-41)
c. Um circuito de pregação (4,42-44)
d. Os milagres de Jesus (5,1-26)
e. A chamada de Levi (5,27-32)
f. Jejum (5,33-39)
g. o emprego certo do sábado (6,1-11)
h. A escolha dos Doze (6,12-16)
i. O sermão da planície (6,17-49)
j. A cura do servo de um centurião (7,1-10)
k. O filho da viúva de Naim (7,11-17)
l. As perguntas de João Batista (7,18-35)
m. A pecadora que ungiu os pés de Jesus (7,36-50)
n. As mulheres que serviram a Jesus (8,1-3)
o. A parábola do semeador (8,4-15)
p. A candeia e seu esconderijo (8,16-18)
q. A mãe e os irmãos de Jesus (8,19-21)
r. Jesus acalma a tempestade (8,22-25)
s. O endemoninhado geraseno (8,26-39)
t. A filha de Jairo (8,40-56)
u. A missão dos Doze (9,1-6)
v. Herodes o Tetrarca (9,7-9)
w. A multiplicação dos pães para os cinco mil (9,10-17)
x. O discipulado (9,18-27)
y. A transfiguração (9,28-36)
z. Jesus e os discípulos (9,37-50)

V. DA GALILÉIA PARA JERUSALÉM (9,51-19,44)

a. Mais lição acerca do discipulado (9,51-62)
b. A missão dos setenta (10,1-24)
c. A parábola do bom samaritano (10,25-37)
d. Marta e Maria (10,38-42)
e. Oração (11,1-13)
f. Jesus e os demônios (11,14-26)
g. Jesus ensina o povo (11,27-12,59)
h. O arrependimento (13,1-9)
i. A cura da mulher encurvada (13,10-17)
j. O reino de Deus (13,18-30)
k. Os profetas perecem em Jerusalém (13,31-35)
l. O jantar com um fariseu (14,1-24)
m. O discipulado (14,25-35)
n. Três parábolas dos perdidos (15,1-32)
o. Ensinos, principalmente acerca do dinheiro (16,1-31)
p. Ensinos acerca do serviço (17,1-10)
q. Os dez leprosos (17,11-19)
r. A vinda do reino de Deus (17,20-37)
s. Duas parábolas acerca da oração (18,1-14)
t. Jesus e as crianças (18,15-17)
u. O jovem rico (18,18-30)
v. Outra profecia da Paixão (18,35-43)
w. A cura do cego (18,35-43)
x. Zaqueu (19,1-10)
y. A parábola das dez minas (19,11-27)
z. A entrada triunfal (19,38-44)


VI. JESUS EM JERUSALÉM (19,45-21,38)

a. A purificação do Templo (19,45,46)
b. Ensinando no Templo (19,45,46)
c. autoridade de Jesus (20,1-8)
d. A parábola dos lavradores maus (20,9-18)
e. Tentativas para apanhar Jesus numa palavra (20,19-44)
f. Advertências contra os escribas (20,45-47)
g. A oferta da viúva pobre (21,1-4)
h. Discurso escatológico (21,5-36)
i. Ensinando no Templo (21,37-38)

VII. A CRUCIFICAÇÃO (22,1-23,56)

a. A traição (22,1-6)
b. No cenáculo (22,7-38)
c. A agonia no Getsêmani (22,39-46)
d. Jesus é preso (22,47-54)
e. Pedro nega a Jesus (22,54b-62)
f. Os guardas zombam de Jesus (22,63-65)
g. Jesus perante o Sinédrio (22,66-71)
h. Jesus perante Pilatos (23,1-5)
i. Jesus é sentenciado (23,13-25)
j. Jesus é crucificado (23,26-49)
l. O sepultamento de Jesus (23,50-56)

VIII. A RESSURREIÇÃO (24,1-53)

a. O aparecimento às mulheres (24,1-11)
b. Pedro no sepulcro (24,12)
c. A caminhada a Emaús (24,13-35)
d. Jesus aparece aos discípulos (24,36-43)
e. O cumprimento das Escrituras (24,44-49)
f. A ascensão (24,50-53)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulinas, 1973.

CHAMPLIN, Russel Normann. O novo testamento interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Milenium Distribuidora Cultura, 1980.

FABRIS, Rinaldo e MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos II. Tradução de Giovani di Biasio e Johan Konings. São Paulo: Loyola, 1992.

MORRIS, Leon L. Lucas: introdução e comentário.  Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Sociedade religiosa edições vida nova e associação religiosa editora mundo cristão, 1990.

NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR GREGO-PORTUGUÊS. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: manual de metodologia. 2 ed. Paulus/Sinodal, 2001.





[1] Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulinas, 1973
[2] Novo Testamento interlinear Grego-Português.
[3] Novo Testamento interlinear Grego-Português.
[4] Novo Testamento interlinear Grego-Português.
[5] Esquema próprio.
[6] Morris, 1990, p. 171; Fabris e Maggioni, 1992, p. 121
[7] Morris, 1990, p. 327
[8] Champlin, 1980, p. 101
[9] Wegner, 2001, p. 109
[10] “Chegamos, em tese, ao texto original da fonte Q quando, numa comparação entre os texto de Mt e Lc, suprimimos deles todas as características reconhecidamente redacionais do primeiro e terceiro evangelistas. Por aproximações, um texto terá tanto mais condições de representar o original da fonte Q quanto menos estiver revestido de vocabulários, gramática e estilo preteridos por Mt ou Lc. Dizemos ‘por aproximação’, pois nada impede que, em certos casos, o estilo original da fonte Q coincida com o estilo preferencial de um destes evangelistas.” (Wegner, 2001, p. 160)
[11] Por conseguinte, parece que o material que é reunido em um único bloco, no Evangelho de Lucas, é disperso em seis diferentes capítulos no Evangelho de Mateus. Tudo isso mostra o desígnio de cada autor sagrado no arranjo de seu material, porquanto cada um deles tinha um propósito diverso ao apresentar as informações onde e como desejam fazê-lo. (Champlin, 1980, p. 102)
[12] Champlin, 1980, p. 102.
[13] “Algumas das instruções são semelhantes àquelas no relato em Mateus no envio dos Doze. Isto leva alguns estudiosos a adotarem o ponto de vista de que esta passagem nada mais é do que uma variação das instruções que foram dada aos Doze em Mateus. Tal idéia, na frase de Plummer, ‘não sustenta a crítica.’ O fato de Lucas ter registrado esta missão em proximidade tão estreita com a dos Doze (que registra em 9,1-16), demonstra que ela as considerava distintas entre si. Cada uma é inteligível no seu próprio lugar. E, conforme indica Manson, é provável que Jesus utilizasse os serviços doutras pessoas fora dos Doze, e igualmente provável que este fato fosse enriquecido em grande medida tendo em vista o lugar dado aos Doze nas reminiscências cristãs.” (Morris, 1990, p. 171)
[14] Champlin, 1980, p. 101
[15] Champlin, 1980, p. 102
[16] “Número 72 (ou 70, segundo alguns manuscritos). Provavelmente com este número se quer indicar um grupo amplo de discípulos que foram associados à atividade de Jesus.” (Fabris e Maggioni, 1992, p. 121)
[17] Fabris e Maggioni, 1992, p. 121
[18] “O número parece ser um símbolo das nações do mundo, conceito este que os judeus baseavam em Gênesis 10, onde há setenta nomes nos textos hebraicos e setenta e dois na LXX. Outros, porém, associam o número com aqueles anciãos nomeados por Moisés (Nm 11:16-17: setenta e dois com os sois que permaneceram no arraial). (Vêem Jesus como sendo o segundo Moisés. Ainda outros pensam nos setenta membros do Sinédrio, os líderes religiosos que deveriam estar preparados para a vinda do Messias.” (Morris, 1990, p. 171)
[19] Morris, 1990, p. 172
[20] “ESSA DECLARAÇÃO evidentemente era uma das favoritas  de Jesus, pelo fato de que a temos em Lucas nesta referência, havendo paralelos similares diretos em João 4,35 e Mt 9,37,38. A declaração, pois, é posta em diferentes contextos históricos.” (Champlin, 1980, p. 103)
[21] Fabris e Maggioni, 1992, p. 121
[22] Fabris e Maggioni, 1992, p. 121
[23] “O missionário fica completamente exposto, também no que diz respeito à sua sustentação, aos riscos da missão: acolhimento ou rejeição, sucessão ou fracasso. Não há garantias secretas.” (Fabris e Maggioni, 1992, p. 121-122)
[24] Champlin, 1980, p. 103
[25] “A bolsa (ballantion) é para dinheiro. A palavra é usada somente por Lucas no Novo Testamento. O alforje (pera) é um saco de viagem. Que não devem levar sandálias provavelmente significa, não que devem andar descalços, mas, sim, que não deve carregar um par extra. Devem ir conforme estão. A ninguém saudeis pelo caminho não é uma exortação à descortesia: é uma lembrança que seu negócio é urgente e que não devem atrasá-lo por meio de demorar-se com conhecidos ao longo do caminho. As saudações orientais podem ser muito detalhadas e consumir muito tempo.” (Morris, 1990, p. 172)
[26] Champlin, 1980, p. 103
[27] Champlin, 1980, p. 103
[28] “Nada pode deter ou impedir o prosseguimento de seu mandato: não a busca de uma hospedagem mais cômoda, nem os tabus alimentares, que impediam os judeus de freqüentar ambientes pagãos; nem a rejeição ou oposição de pessoas. Ele é um enviado que traz o último e urgente apelo e a possibilidade de salvação, que devem chegar aos ouvidos de todos, custo o que custar.” (Fabris e Maggioni, 1992, p. 122)
[29] Fabris e Maggioni, 1992, p. 121
[30] Champlin, 1980, p. 104
[31] “Talvez uma cidade não os receberia. Então, devem sair pela ruas  com sua mensagem. Devem contar ao povo duas. Em primeiro lugar, devem sacudir contra ele o pó dos seus pés. Informa os cidadãos de modo simbólico que se colocaram fora do povo de Deus. Em segundo lugar, que a atitude deles não altera as realidades. A sua rejeição dele não altera o fato de que era nada menos do que o reino de Deus que tinha estado próximo. Ao rejeitarem os pregadores não estavam rejeitando um par de pobres itinerantes, mas, sim, o próprio reino de Deus, e isso tem sérias conseqüências. As pessoas atraíam o julgamento para si mesma. (Morris, 1990, p. 173)

[32]Naquele dia não é explicitado, mas claramente significa o dia terrível do julgamento (cf. 12,34; Mt 7,22; 2Ts 1,10; 2Tm 1,12.18; 4,8). Então haveria menos rigor para Sodoma do que para aqueles transgressores. A destruição de Sodoma (Gn 19,13. 24-25) fez com que aquela cidade ficasse proverbial para o julgamento divino dos perversos. A culpa daqueles que rejeitassem os mensageiros do Reino de Deus é enfatizado pela alusão.” (Morris, 1990, p. 173)
[33] Morris, 1990, p. 61. Já Fabris e Maggioni intitulam “a caminho de Jerusalém”, e dividem em Lc 9,51-19,28 (Fabris e Maggioni, 1992, p. 116)
[34] Fabris e Maggioni, 1992, p. 13
[35] Morris, 1990, p. 60-62.

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