INTRODUÇÃO
O texto a ser analisado é um discurso de Jesus,
dentro do livro de Mateus, em que o tema é procurar a justiça do reino, sem
preocupações (Mt 6,25-34). Neste discurso, em forma de catequese, aponta para
onde o discípulo deve olhar e para onde não deve olhar.
Seguiremos o modelo proposto pelo professor acerca
da exegese bíblica, cujos passos são divididos em 3 momentos: 1) análises
preliminares, 2) Exegese do Texto e 3) o texto no contexto.
1. ANÁLISES PRELIMINARES
1.1 Delimitação do texto:
Para provar que podemos trabalhar nossa perícope
separadamente, abrimos mão da possibilidade de utilização da regra de lugar. O
lugar é o mesmo, desde 4,18 quando Jesus chama Simão e André, às margens do mar
da Galiléia: “Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos:
Simão Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram
pescadores” (cf. Mt 4,18).
O lugar é a Galiléia, mas pelo texto não podemos
definir: “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas o Evangelho
do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo” (cf. Mt 4,23).
O evangelho diz “toda a Galiléia”, e não somente uma cidade.
Em 5,1 sabemos que ele sobe à montanha, senta e
começa a falar: “vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se,
aproximaram-se deles os seus discípulos” (cf. Mt 5,1). O discurso termina em
8,1 quando Jesus desce da montanha. Vemos que ele muda de lugar somente em 8,5,
quando ele entra em Cafarnaum: “Ao entrar em Cafarnaum, chegou-se a ele um
centurião que o implorava e dizia” (cf. Mt 8,5). Portanto, não podemos utilizar
o recurso do lugar:
Nem poderíamos também recorrer ao recurso do tempo
e de personagens. Dos capítulos 5 a 7 temos o mesmo evento e os mesmos
personagens: Os personagens permanecem sendo Jesus, os discípulos e a multidão
(5,1). O leproso que se aproxima em 8,2, certamente fazia parte da multidão. O
evento é o discurso que inicia em 5,2 e termina em 7,28.
Resta-nos utilizar o argumento do tema.
Alguém poderia nos questionar: Por que não incluir
com 6,25-34 a perícope 6,19-24 cujo tema é semelhante: fala para não juntar
riquezas na terra. Então, fazer dos dois, um só texto, ficando 6,19-34, e colocar o tema
sugerido por Dumais: “a justiça procurada de maneira exclusiva e sem
inquietações”?[1]
Ainda que tenha uma quase-relação com o tema
anterior, ou seja, a ordem para não juntar tesouros na terra (6,19), que
suscitaria a pergunta: onde pôr, então, nossas forças vitais? e a resposta:
“Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça” (6,33), mesmo assim, pensamos
que há uma unidade indissolúvel em 6,25-34. Em 6,25 inicia uma frase (dia toûto légo húmîn, mè merimvâte tê psiché
húmôn) “por isso digo a vós, não vos preocupeis pela vida vossa”. Os
versículos 26,27,28,29,30,31 falarão do mesmo assunto. Lá adiante, em 6,32
ainda estaremos na mesma sequência argumentativa, com a crítica de que até
mesmo os gentios pensam assim: (pánta gár
taûta tà éthne epidzetoûsin) “todas estas coisas os gentios procuram”. Com
o v.33 temos a resposta do que deve ser procurado. No v. 34, o assunto é
retomado de uma forma conclusiva (me oûn
merimnésnte eis tèn aúrion) “portanto, não vos preocupeis para o amanhã”[2].
1.2 Estrutura do texto
A proposta de Champlin é dividir o texto em 8 motivos para o
discípulo pôr sua confiança no Pai. Assim, poderíamos montar a estrutura do
texto seguindo estes 8 motivos:
6,25 - A vida vale mais do que
qualquer necessidade biológica;
6,26 - Se Deus cuida dos animais,
também cuidará de nós, que somos seus filhos;
6,27 - A ansiedade não altera o numero
de nossos dias;
6,28-31 Se Deus veste maravilhosamente
as plantas, também providenciará o que necessitamos;
6,32a - Os discípulos não devem se
preocupar como os gentios;
6,32b - O pai sabe o que precisamos;
6,33 - Se buscarmos o reino de Deus,
ganharemos o que pedirmos e
6,34 - A ansiedade não nos acrescente
nada, a não ser mais sofrimento.
1.3 Texto paralelo
Dumais fala que no sermão da montanha, Mt utilizou
duas fontes: uma paralela com Lc (fonte Quelle)
e outra fonte própria[3].
O sermão da montanha, em Mt, é conhecido como
sermão da planície em Lc. Há um paralelo entre texto, tendo, porém, uma parte
de originalidade na construção por parte dos dois evangelistas. Os temas do
sermão da montanha é colocado em um único discurso. O sermão da planície é mais
breve, e muitos dos textos paralelos com o sermão da montanha se encontram dispersos
no evangelho de Lc.
Faremos um paralelo segundo a tradução da Bíblia
de Jerusalém.
Podemos perceber que em Lc, Jesus está voltando-se
especificamente para os discípulos, pois antes falava com a multidão (cf. Lc
12,13-14). Por isso, o texto paralelo inicia com: “Depois disse a seus discípulos”
(Lc, 12,22), enquanto Mateus se dirige aos discípulos e ao povo (cf. Mt 5,1).
Lucas acrescenta, ainda, “não vos preocupeis com a vida”, antes de falar na
“preocupação em comer.”
Outra diferença é que, enquanto Mt fala em “aves”,
Lucas fala em “corvos”.
No v. 28, Mt, após falar de que ninguém pode
acrescentar nada com a preocupação, retorna com o tema da preocupação pelas
vestes antes de falar nos lírios do campo. Lc, no v. 26 prossegue o discurso de que a preocupação não
acrescenta em nada, e reforça dizendo que, se não acrescentam nada, não é digna
de preocupação.
No v. 30, Lucas difere de Mateus quando diz que os
gentios são “deste mundo”.
Mt, no v. 33 ao “seu Reino” acrescenta “e sua
justiça”, diferente de Lc. Além disso, especifica que a busca do reino deve vir
em primeiro lugar, o que não aparece em Lc.
No v. 34 finaliza com um resumo que serve como
reafirmação. Não vemos isso também em Lc.
1.4 Considerações conclusivas
Sabendo que estamos trabalhando com um texto
analisado sincronicamente (como ele se apresenta na sua redação final),
partiremos no capítulo seguinte para uma exegese que vai buscar sua maior
inspiração e explicitação no livro do Champlin intitulado “O Novo Testamento
interpretado”, em que o mesmo autor interpreta parágrafo por parágrafo.
Utilizaremos como complemento, outros autores.
2. EXEGESE DO TEXTO
Para Mateus, Jesus é um mestre superior aos rabinos[4].
Jesus é o “novo Moisés” que vem cumprir a definitivamente a promessa.
Champlin diz que o texto dá oito razões[5]
para que o discípulo não tenha ansiedade
pelas coisas materiais. 1) A vida vale mais do que qualquer necessidade
biológica; 2) Se Deus cuida dos animais, também cuidará de nós, que somos seus
filhos; 3) A ansiedade não altera o numero de nossos dias; 4) Se Deus veste
maravilhosamente as plantas, também providenciará o que necessitamos; 5) Os
discípulos não devem se preocupar como os gentios; 6) O pai sabe o que
precisamos; 7) Se buscarmos o reino de Deus, ganharemos o que pedirmos e 8) A
ansiedade não nos acrescente nada, a não ser mais sofrimento.
1) A vida vale mais do que qualquer
necessidade biológica
V.25 - Por isso vos digo: Não estejais ansioso
quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo o que haveis de beber;
nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que
o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?[6]
Na forma mais curta, encontrada em alguns
manuscritos, não há a frase “ou pelo que havereis de beber” (è ti píete). Pode ter sido acrescentado
por semelhança ao vs 31. Outra possibilidade é a falha do copista que confundiu
phagete com piete[7].
Champlin recorda o vs anterior, 24, e diz que o
autor que ligar o pobre com “mamon”, o deus da riqueza. Isto é, o pobre também
pode desviar-se de Deus quando coloca sua preocupação excessiva nas coisas
materiais. Quem se inclina para “mamon” perde a confiança no Reino de Deus e
fica preocupado com os bens, com necessidades físicas.
2) Se Deus cuida dos animais, também cuidará
de nós, que somos seus filhos
v. 26 . Olhai para as aves do céu, que não semeiam,
nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não
valeis vós muito mais do que elas?[8]
Para Champlin, as aves significam a alimentação
(não semeia, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros), e posteriormente, os lírios
significarão o alimento.
Mas Champlin diz que não podemos confundir e achar
que Deus não quer que trabalhamos pelo nosso alimento. Paulo já exortava a
comunidade para que trabalhasse (II Tes 3,10). Não é isto. Diz, sim, que não
devemos ficar ansiosos pelo alimento, pois Deus não deixará faltar, nem às
aves, nem ao ser humano que é superior às aves.
3) A ansiedade não altera o numero de nossos
dias
v.27. Ora, qual de vós, por mais ansioso que
esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?[9]
Champlin explica que o côvado (pêchun) servia
para designar uma medição de tamanho (46 centímetros), mas também de tempo.
Aqui, não faria sentido se fosse designado como tamanho. Champlin faz uma
glosa, dizendo que seria um milagre se alguém conseguisse aumentar de tamanho.
Para ele, isso quer significar tempo, ou como em muitas traduções, “dia”, como
a Bíblia da CNBB.
4) Se Deus veste maravilhosamente as plantas,
também providenciará o que necessitamos
v. 28. E pelo que haveis de vestir, por que estais
ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;[10]
Como mencionamos anteriormente, os lírios significam,
no texto, a provisão das vestes (como as aves, a provisão dos alimentos).
Embora de pouca duração e importância, Deus se
preocupa com as flores. Por que não haveria de preocupar-se conosco, seus
filhos?
Além disso, explica Champlin, que as vestes eram
considerada bens materiais valioso, dependendo o tecido.
v.29. Contudo vos digo nem mesmo Salomão em toda
a sua glória se vestiu como um deles.[11]
Se falamos em Salomão, qualquer judeus sabe quem foi: um
homem de muita sabedoria, de muita riqueza e abençoado por Deus. Jesus coloca as
vestes de Salomão, que ele conseguiu com suas riquezas, inferior às vestes das
plantas, que são fruto da bondade de Deus. O ser humano, cuidado por Deus, não
precisa se preocupar porque a bondade de Deus será maior para como ele.
v.30. Pois,
se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no
forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?[12]
Champlin lembra que as flores, mesmo que fossem belas, eram
consideradas em igualdade com as ervas do campo pois, não tendo madeira naquela
região, eram folhas e ervas que alimentavam os fornos para assar a massa, que
era posta por fora.[13]
Se Deus embeleza uma flor que não tem outra utilidade senão a de ir para o
fogo, ele quer dizer que também terá muito maior cuidado com as pessoas que
fazem a sua vontade.
v. 31 Portanto,
não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? Ou: Que havemos de beber?
Ou: Com que nos havemos de vestir?[14]
Neste trecho, o evangelista resume as principais
preocupações dos cristãos que não lhes acrescenta em nada.
5) Os discípulos não
devem se preocupar como os gentios
v.32a. Pois a
todas estas coisas os gentios procuram[15].
6) O pai sabe
o que precisamos
v.32b. Porque
vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso[16].
Jesus utiliza a comparação com os gentios pois
sabia que nenhum judeu gostaria de ser comparado com os gentios.
Os judeus sabiam que nas escrituras Deus sabe tudo
aquilo que fizemos e pensamos. Jesus o apresenta com um Pai amoroso, que se
inclina para defender e auxiliar o seu povo.
7) Se buscarmos o
reino de Deus, ganharemos o que pedirmos
v.33. Mas
buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas[17].
Champlin chama o reino e sua justiça de coisas
espirituais. Buscando, garantiremos as necessidades físicas.[18]
O acréscimo “de Deus” (toû Theoû) não aparece em alguns manuscritos. A Bíblia de Jerusalém
não o traduz. Ela segue a versão “seu Reino e sua justiça” (tèn basileían kaì tèn dikaiosúnen). A
Bíblia da CNBB traduz por “Reino de Deus e sua justiça”, assim como a Bíblia
Pastoral. A Bíblia Almeida traduz por “Reino de Deus e aquilo que Deus quer”.
Como falamos antes, Mateus acrescenta “em primeiro
lugar”, o que não aparece no paralelo de Lucas. É uma ênfase.
Para Champlin, o reino é o tema principal.[19]
Reino (de Deus) significa que é um lugar onde Deus
reina. Este lugar é também a terra, se todas as coisas forem sujeitadas a Deus,
ou seja, se o ser humano fazer a vontade de Deus.
8) A
ansiedade não nos acrescente nada, a não ser mais sofrimento
v. 34. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de
amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o
seu mal.
Mais uma vez o evangelista reafirma que não devemos
nos preocupar com o dia de amanhã, dando mais um motivo para tal: cada dia já
temos sofrimentos suficiente para sofremos mais antecipadamente, nos
preocupando com o amanhã que não chegou.
3. O TEXTO NO CONTEXTO
3.1 A estrutura de Mateus
A presente perícope (Mt 6,25-34) está situada
dentro do Evangelho de Mateus, escrito por volta do ano 70, na Síria. Alguns
sugerem a Antioquia, mas ficaremos na primeira possibilidade. É um trecho que
faz parte de um dos discursos do sermão da montanha.
Mackenzie[20]
sugere a divisão do Evangelho em 3 partes mais o prólogo:
Prólogo: 1,1-4,11.
1,1-2,23: genealogia e relatos da infância.
3,1-4,11: pregação de João Batista, batismo e tentações.
I. Pregação na Galiléia: 4,12-13,58:
1) 4,12-25: Cafarnaum, vocação dos discípulos, sumário.
2) 5-7: o sermão da montanha.
3) 8,1-9,34: o ciclo dos dez milagres.
4) 9,36-11,1: discurso missionário.
5) 11,2-12,50: incredulidade e hostilidade dos judeus.
6) 13,1-52: parábolas.
7) 13,53-58: rejeição de Nazaré.
II. Viagens de Jesus: 14,1-20,34:
1) 14,1-12: morte de João Batista.
2) 14,13-15,20: Jesus na Peréia, primeira multiplicação dos pães, o
milagre do lago, curas, controvérsia.
3) 15,21-16,4: Jesus na Palestina setentrional, curas, segunda
multiplicação dos pães, controvérsia.
4) 16,5-17,27: ensinamento, confissão de Pedro, anúncio da paixão, o
tributo para o templo.
5) 18: discurso sobre a Igreja.
6) 19,1-20-34: viagem a Jerusalém, ensinamento, parábolas, terceiro
anúncio da paixão.
III. Pregação em Jerusalém, paixão, morte e ressurreição: 21-28:
1) 21,1-22: atividade messiânica.
2) 21,23-22,46: ensinamento messiânico.
3) 23: denúncia dos escribas e fariseus.
4) 24-25: discurso escatológico e parábolas.
5) 26,1-46: Jesus e os discípulos, a última Ceia, o Getsêmani.
6) 26, 47-75: Jesus diante do tribunal judaico.
7) 27: Jesus diante do tribunal romano, crucifixão e morte.
8) 28: ressurreição de Jesus.
Utilizaremos este esquema par visualizar melhor a
nossa perícope que se encontra dentro da capítulo que se refere à pregação na
Galiléia. Como subtítulo, temos a parte intitulada “sermão da montanha”.
3.2 Relação
com o contexto imediato
Quanto à comunidade de Mateus, Barbaglio diz que
era uma comunidade mista, em que se encontrava tanto judaizantes quanto cristão
abertos. Mateus teria tido o comportamento de se colocar como combatente dos
extremismos da comunidade. Com os judaizantes, defendia a lei de Moisés, com os
cristãos abertos, afirmava que Jesus tinha um ensinamento superior.[21]
Era uma
comunidade que estava se distanciando da proposta de Jesus. Esperaram o reino
para próximo, e ele não veio. Suas atitudes demonstravam cansaço e laxismo
moral. Por isso, o evangelista insiste na necessidade de vigiar.[22]
Apesar destes problemas interno, externamente, diz
Barbaglio, era uma comunidade missionária[23],
que anunciava o evangelho. Isto lhes custava a perseguição, os processos nos
tribunais, a traição e amigos e parentes (10,17-25). Tinham, porém, a confiança
de que o Pai zelava pelo bem estar da comunidade. Nesta perspectiva podemos
entender o texto Mt 6,25-34 e Mt 10,29-31, que fala que até nossos fios de
cabelos estão contados.
O texto faz parte do grande discurso do Sermão da
Montanha (5-7). Percebendo a estrutura, encontramos um estilo de narração muito
conhecido no judaísmo. Marcel Dumais nos auxilia quando ele descobre um estilo
conhecido com “quiasmo polindrômico concêntrico”[24],
muito utilizado pelos judeus nos escritos bíblicos. Este procedimento se dá
através da valorização das palavras mais citadas no discurso. Se a palavra
“justiça” aparece 5 vezes, “Reino dos céus” se encontra 8 vezes e “Pai”, 17
vezes. Dumais conclui que a oração do “Pai-Nosso” é a parte mais importante do
Sermão da Montanha. A este discurso ele dá o nome de “a justiça do Reino do
Pai”.
O quiasmo ficou assim[25]:
Auditório (5,1-2)
Introdução: Declarações
(5,3-16)
A Lei e os profetas (5,17-19)
Antíteses (5,20-48)
Justiça diante de Deus (6,1-6)
Pai-nosso (6,7-5)
Justiça diante de Deus (6,16-18)
Juntar tesouros, preocupar-se, julgar, pedir (6,19-7,11)
A Lei e os profetas (7,12)
Conclusão: Exortações (7,13-27)
Auditório: Exortações
(7,28-29)
3.3 A função da perícope no livro
Temos, aí, a estrutura do sermão da montanha
proposta por Dumais[26].
Introdução: auditório (5,1-2) [cf. inclusão 5,1-2 e 7,28-8,1]
I. Exórdio: as bem-aventuranças do Reino dos céus (5,3-16)
1. As oito
bem-aventuranças do Reino (5,3-10)
2. A nona bem-aventurança.
O sal e a luz (5,11-16) [cf. “vós”]
II. Corpo central: A justiça do Reino ou Viver como filhos do Pai
(5,17-7,12)
Introdução: o cumprimento da
Lei e dos profetas (5,17-19)
1.
A justiça excedente (5,20-48) [cf. “excessos” em
5,20 e 5,47]
1)
Enunciado geral sobre a justiça (5,20)
2)
Seis aplicações (5,21-48)
2.
A justiça feita em segredo diante do Pai
(6,1-18)
1)
Enunciado geral sobre a justiça (6,1)
2)
Três aplicações (6,2-18)
3.
A Justiça procurada de maneira exclusiva e sem
inquietação (6,19-34)
1)
Ajuntar tesouros aos serviço de Deus e não de
Mammon (6,19-24)
2)
Procurar a justiça do Reino, sem inquietações
(6,25-34)
4.
Sentenças reagrupadas (7,1-11)
1)
Não julgar seu irmão (7,1-5)
2)
Não dar aos cães o que é santo (7,6)
3)
Pedir e o Pai vai dar (7,7-11)
Conclusão: Isto é a
Lei e os profetas (7,12)
III. Exortação final: Estas palavras são para as praticar (7,13-27)
1.
Dois caminhos (7,13-14)
2.
Duas espécies de profetas e de frutos (7,15-20)
3.
Duas espécies de discípulos (7,21-23)
4.
Dois tipos de casas (7,24-27)
A perícope não cumpre uma função decisiva dentro
do Evangelho, nem mesmo dentro do sermão da montanha (5-7). No sermão da
montanha, como afirma Marcel Dumais, o centro é o Pai Nosso. A perícope seria
um dos temas do sermão da montanha.
CONCLUSÃO
A perícope analisada nos mostrou que não devemos
nos preocupar com comer, beber e vestir. Devemos buscar fazer a vontade de
Deus, pois isso nos encaminhará para a realização de nossas necessidades
básicas e espirituais.
Saindo um pouco do esquema dos exegetas
profissionais, ousamos afirmar que esta perícope pode ser uma chave de
interpretação para o discípulo: “Buscai primeiro seu Reino e sua justiça” (cf.
Mt 6,33). Sabendo que o Reino anunciado chegou com Jesus Cristo, a catequese
ganha pleno sentido: que devemos ser discípulos de Jesus, praticando a justiça.
Quando praticamos a justiça, fazemos a vontade do Pai que é vida e liberdade
para todos, e isso implica a partilha, em todo os sentido. É pela partilha que
Deus vai garantir que nada nos faltará.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Jerusalém.
CARTER, Werren. O Evangelho de São
Mateus: comentários sociopolítico e religios a partir das margens. Tradução
de Walter Lisboa. São Paulo: Paulos, 2002. (grandes comentários bíblicos)
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento interpretado. Versículo por versículo. Vol I. 2 ed. São Paulo:
Milenium, 1980.
DUMAIS, Marcel. O sermão da
montanha: Mateus 5-7. Tradução de José Maria da Costa Vilar. São Paulo:
Paulus, 1998. (Cadernos Bíblicos – 73).
MACKENZIE, John L.Dicionário
Bíblico. 3 ed. Tradução de Álvaro Cunha. São Paulo: Paulinas, 1984.
[1]
Dumais, 1998, p. 19
[2]
Grego e tradução de Champlin.
[3]
Dumais, 1998, p. 11-12
[4]
Mackenzie, 1984, p. 590
[5]
Champlin, 1980, p. p. 330
[6]
Tradução de Champlin.
[7] Champlin,
1980, p. 327
[8]
Tradução de Champlin.
[9]
Tradução de Champlin.
[10]
Tradução de Champlin.
[11]
Tradução de Champlin.
[12]
Tradução de Champlin.
[13]
Champlin, 1980, p. 329
[14]
Tradução de Champlin.
[15]
Tradução de Champlin.
[16]
Tradução de Champlin.
[17]
Tradução de Champlin.
[18]
Champlin, 1980, p. 329
[19]
Champlin, 1980, p. 330
[20]
Mackenzie, 1984, p. 589
[21]
Barbaglio, 1990, p.40
[22]
Barbaglio, 1990, p. 41
[23]
Barbaglio, 1990, p. 41-42
[24]
O texto bíblico tem um centro, cuja palavra ou frase é a mais importante.
[25]
Dumais, 1998, p.18
[26]
Dumais, 1998, p. 19
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